Ontem morreu Luís Pacheco!
O que é que eu posso dizer de
"O
[…]o Namora é abaixo de cão, nem é abaixo de Namora, é abaixo de cão[…]
[…]o Saramago[…] Eu comprei o Evangelho, ele costumava-me mandar, mas eu comprei: li duas páginas e depois fui ver que faltavam ainda 500 ou 400 e não li mais nada[…]
[…]A Natália Correia é uma devassa, vocês ponham isso que ela fica toda zangada […] «Ó sua maluca, você não é uma libertina, você é uma devassa», é uma estragadona que não respeita pai nem mãe, vai meter-se com o irmão de uma mulher minha, com um tio deste, quando eu estava preso no Limoeiro. Ela meteu-se com uma mulher minha. Quer dizer, abusou da situação de eu estar preso para aproveitar uma rapariga que estava lá em casa por caridade […]
[…]
[…] Agora esta Pedrosa (Inês) é uma estúpida[…] Deve ser muito estúpida. Li umas coisas dela horrorosas, completamente idiotas[…]
Excertos da entrevista de Luis Pacheco a Carlos Quevedo e a Rui Zink, publicada na Revista K em 1992
Vagabundo militante durante toda a vida, Luiz Pacheco começa por criar a histórica editora Contraponto em 1950. Sob este selo saem, nos anos seguintes, títulos de Herberto Helder, Mário Cesariny, José Gomes Ferreira, Vergílio Ferreira, José Cardoso Pires, Natália Correia e António Maria Lisboa, entre outros. É um editor fundamental no seu tempo, muito ligado ao movimento surrealista, mas ao qual não se prende.
É escritor dos melhores: certeiro, escorreito, vivido e profundo conhecedor do mundo literário. Em 1959 publica a Carta-Sincera a José Gomes Ferreira, escrita em 1953, em A Antologia em 1958, organizada por Cesariny. O Teodolito é feito público em 1962. Depois seguem-se memoráveis textos da literatura portuguesa como Comunidade (1964), Crítica de CircunstânciaO Libertino Passeia por Braga, a Idolátrica, o Seu Esplendor (1970), Exercícios de EstiloLiteratura Comestível (1972) e Pacheco versus Cesariny (1974).
Desentendimentos circunstanciais com Mário Cesariny levam à publicação do Jornal do Gato, em 1974, pela mão do poeta surrealista, que compila um conjunto de cartas de Luiz Pacheco a diversos interlocutores, para no final lhe responder publicamente. Foi Pacheco a abrir os precedentes, com a publicação de Pacheco versus Cesariny. Quando entrevista a Carlos Quevedo" st="on">em entrevista a Carlos Quevedo e a Rui Zink, em 1992, lhe perguntam porquê, responde simples: «Isso sempre foi um hábito meu, dar o nome aos bois.»
Escreve e publica panfletos e pequenos contos, dos quais, o primeiro de todos, História Antiga e Conhecida, primariamente publicado em 1946 num volume com vários autores, é recuperado em 2002 sob a designação Os doutores, a salvação e o menino Jesus. De 1981, lembramos O Caso das Criancinhas Desaparecidas. Nos panfletos estão títulos como Crueldade Testicular (1960) ou A PIDE nunca existiu (1976).
Na poesia, campo onde poderia ter sido, a querer, um supra-Pessoa, afirmou o próprio, pode ser lido na Antologia da poesia erótica e satírica (1966), organizada por Natália Correia. Quis ser crítico feroz, denunciando a desonestidade intelectual. Vítima mediática dessa vontade foi Fernando Namora, a quem Luiz Pacheco acusou de plagiar algumas passagens de Aparição
Em 2005, foi recuperado pela D. Quixote, que publicou Diário remendado 1971-1975, e pela Quasi, que edita Cartas ao léu: 24 cartas a
Quanto a 2008, a Tinta da China deve editar, ainda este mês, as últimas entrevistas concedidas pelo escritor, compiladas por João Pedro George, que prepara ainda a tese de doutoramento sobre o escritor, editor, tradutor e crítico literário. E espírito livre.
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