13 de junho de 2005

Álvaro Barreirinhas Cunhal (1913 - 2005)

Portugal viu desaparecer hoje o maior vulto político da segunda metade do Século XX português e a segunda figura política mais importante de todo o século passado.
Eu sou um firme opositor às ideias do falecido, mesmo depois de morto, mas tenho de me curvar perante a sua verticalidade, rectidão e lamentar-me por a sociedade democrática portuguesa nunca ter conseguido produzir alguém como Álvaro Cunhal, uma pessoa que põe um ideal à frente das suas necessidades pessoais, alguém que nunca verga, nem se dobra como borracha à primeira contrariedade, que sabe muito bem onde quer chegar e conhece o caminho que lá vai dar.
Como devem ter sido infelizes os últimos anos da sua vida, nos quais viu ruir todo o universo em que acreditou, e pelo qual lutou e se sacrificou durante toda a sua vida, 12 anos de prisão, dos quais 8 em solitária, quase inexistência de vida pessoal para que em menos de um ano tudo se esfumou, praticamente sem oposição, de uma maneira em tudo idêntica ao regime do seu nemésis, Oliveira Salazar. Cunhal sofreu, muito mais do que aquilo que eu, alguma vez lhe tinha desejado. Mesmo o seu partido, construído a partir de 1961 à sua imagem, que apesar de proclamar o seu desígnio ateísta, a sua organização e os seus membros assemelhavam-se mais a uma ordem militar-religiosa, seguidora dos ditames da “religião” em que Marx, Engels e sobretudo Estaline eram os "profetas" e Cunhal, o último dos seus "apóstolos", sendo o seu “Papa” incontestado por 31 anos, não resistiu à sua saída, estando hoje em dia, reduzido ao seu núcleo duro de seguidores fieis que nunca irão alterar nada daquilo que o "apóstolo" e "papa" lhes deixou em testamento.

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