5 de julho de 2005

Live Eigth – Indulgências do Século XXI

Há 20 anos atrás o mundo uniu-se no concerto Live Aid, organizado pelo cantor Bob Geldof, que ficou horrorizado com as imagens da fome que então grassava na Etiópia. Este duplo concerto (Inglaterra e Estados Unidos) ficou marcado pelas duas músicas que foram escritas na ocasião. O evento foi bastante interessante, pois a Polítiquisse esteve totalmente ausente.
No entanto, não há fome que não dê em fartura, e o êxito do Live Aid virou moda, País que não arranjasse uns “pretitos” com fome, não era país de jeito. A França fez uma canção para o Haiti e para a sua Africa, Portugal adoptou os famintos Moçambicanos e a Espanha, teve um pouco mais de trabalho, à falta de uns “Hermanos hambrientos de Africa”, não se fez rogada e saiu uma canção para a América Latina, pois lá parece que também se morria de fome. Ao fim de um ano, caiu tudo no esquecimento ocidental, para desespero dos famintos que continuaram a morrer como até então tinham morrido.
No Sábado passado, realizou-se o Live Eigth, dedicado à luta contra a pobreza, devido ao relativo reduzido número de famintos. Ao contrário de há 20 anos atrás, a mensagem é indubitavelmente política e acusa-se, outra coisa não seria de esperar, os países ricos de serem os únicos responsáveis pela miséria do mundo.
Mengistus, Bokassas, Mobutus, Mugabes, Zédus e outras personagens sinistras, que se aboletaram com o equivalente a 4 planos Marshall, e o dinheiro que restou do Live Aid de 85, deixando os seus países na mais pura indigência, não constam dos livros de História dos organizadores
Matéria-Prima para os concertos havia em excesso, pois há 20 anos atrás os participantes no Live Aid, viram as suas vendas multiplicarem-se exponencialmente, só por lá terem participado, por isso neste ano não houve dois concertos, houve 10, tantos eram os artistas milionários que desejavam comprar as suas indulgências, esperando que Deus não olhe para a sua conta bancária no dia do seu julgamento final. Até artistas que julgávamos já mortos e enterrados apareceram em Palco, rejuvenescidos, só de pensar no relançamento da sua defunta carreira.
O que é triste é que do dinheiro gerado, apenas uma ínfima parte se irá materializar em ajuda efectiva às populações pobres, o resto ficará em “custos de transporte” anormalmente elevados, nos elevados salários auferidos pelos funcionários das ONG’s, nos subornos às autoridades dos Países Africanos, etc e tal.
Mas enfim, destes assuntos ninguém fala e os artistas do Live Eight voltarão a dormir descansados, em paz com os seus milhões, que aumentarão devido à publicidade grátis conseguida e com a certeza que a indulgência recebida lhes abrirá as portas do céu.

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