26 de abril de 2008

Cobardias

Há alguns dias, Pacheco Pereira dissertou longamente sobre a Guerra do Ultramar e às páginas tantas sobre os desertores à guerra colonial, tendo afirmando que tal decisão era um sacrifício tão grande como ir cumprir o dever para com a pátria, nas províncias ultramarinas.
Tenho reparado em alguns textos que então apareceram, mais ou menos justificativos, mas que todos eles dão a entender os “desertores” eram constituído por um corpo homogéneo, unido nas mesmas motivações políticas. Nada mais falso, havia várias espécies de desertores e todos o eram por diferentes razões.

O grupo mais numeroso de refractários foi aquele constituído pelo Portugueses que viviam na mais profunda miséria, sobretudo do interior rural, e conhecendo os relatos da primeira leva de emigrantes, que nos anos 50 foram trabalhar na reconstrução europeia, estiveram perante o dilema de ir cumprir o dever para com a pátria em África, Pátria essa que nunca fez nada para lhes proporcionar qualquer conforto e bem-estar, e ir tentar a sorte a salto nos países europeus, esses sim, que proporcionavam a todos, o tão ambicionado bem-estar a que desejavam ter direito. Estes “desertores” não sabiam, nem queriam saber nada de política, nem do “fascismo”, nem do Salazar. Tanto é assim que mesmo em França continuaram completamente apolíticos e tal posição continuou, mesmo até aos dias de hoje.


Uma segunda classe de “desertores”, eram os membros do Partido Comunista, cuja filiação era já conhecida pela PIDE. Mas estes “desertores” mesmo que se apresentassem, seriam enviados para Caxias e nunca para África. Em relação aos membros ou simpatizantes do Partido Comunista cujas simpatias não eram conhecidas pela PIDE, esses foram todos mobilizados, como Vítor Dias bem sabe, e alguns deles, que eu conheço pessoalmente, prestaram mesmo o seu dever com distinção.


E chegamos à terceira classe de Desertores, aquela que Pacheco Pereira fala, e que tentava incluir num “bolo” único. Esta classe era constituída pela parte da população que beneficiava directamente do status-quo do Estado Novo, privilegiada, rica e instruída, vivia num outro Portugal, bem "longe" do estado de indigência em que se encontrava a maioria da população.


Estes Portugueses tinham um bom nível de vida, mesmo para os padrões actuais.

Estes recusaram defender a pátria que tanto os beneficiava e preferiram partir, financiados, a maioria pelos dinheiros dos seus papás. E o seu “exílio” foi bastante dourado.

Nessa altura Paris devia ser uma cidade espectacular para quem tinha duas coisas, Dinheiro e tempo Livre. Mesmo para aqueles cuja mesada paternal não chegava para os copos do Quartier Latin e Montparnasse, podiam arranjar facilmente um empregozeco relativamente bem pago. Esta classe de desertores nunca pôs o pé nos Bidonville, onde a primeira classe de "desertores" vivia, até podemos dizer que raramente saiu dos limites da cité, dos seus cafés e livrarias.


Não quero que pensem que estou aqui a dar lições de moral a estes senhores. Não dou, porque sou de uma outra geração. Geração que nunca foi posta perante o dilema de ter que defender a sua pátria lutando. Se vivesse nesses tempos, não poderia dizer, hoje em dia, qual a opção que teria tomado.
Mas estes desertores não contentes com o que fizeram, voltaram logo a seguir ao 25 de Abril para Portugal e foram-se colocar em Alcântara a chamar de “assassinos” aos Portugueses que combateram em África. Mais tarde o acto de cobardia serviu de “medalha” para se introduzirem na classe politica dirigente, onde ainda se encontram. Aí difundiram a sua cultura de exigir direitos recusando-se a cumprir qualquer dever, cultura essa que hoje está completamente arreigada na Sociedade Portuguesa.

Mas não se ficaram por aí!

Tiveram até a desfaçatez de Auto-atribuir-se pensões por “feitos relevantes na luta Anti-fascista”.
Estes cobardolas apenas são merecedores do meu mais profundo desprezo.
Nada lhes devo.


Se houve 25 de Abril, se hoje vivemos em Democracia e se a minha geração nunca se confrontou com o dilema de combater ou não combater, são coisas que devo a todos os Portugueses que foram mobilizados para a guerra do Ultramar, sobretudo aqueles que nunca voltaram.
Esses é que são os verdadeiros Heróis.
Esses é que foram os que se sacrificaram.
Esses foram aqueles que todos os dias, durante dois anos ao acordar, não sabiam se iria ser a última vez.
Esses são aqueles que hoje estão votados ao esquecimento.
Esses são aqueles que a classe política, saída do 25 de Abril, nunca teve a honra nem a dignidade de lhes agradecer.

A todos os que foram mobilizados, o meus sinceros agradecimentos.

Aos filhinhos do Papá e da Mamã, que prestaram a sua comissão nos bares do Quartier Latin



BADAMERDA!

6 comentários:

Anónimo disse...

SUBSCREVO TOTALMENTE O TEXTO. SÓ FAÇO UM PEQUENO REPARO. NÃO GOSTO DA EXPRESSÃO "ULTRAMAR",REVELA COBARDIA, E ESCONDIA UMA FALTA DE DIGNIDADE E RESPONSABILIDADE DOS NOSSOS GOVERNANTES, PERANTE O MUNDO,O PAÍS,AS EX-COLÓNIAS,E O POVO.
INFELIZMENTE O PASSADO, AINDA PERDURA EM PLENO SÉCULO XXI.

Ventor disse...

Conheci gente dos três grupos de desertores focados.
Os do primeiro grupo não eram desertores voluntários nem involuntários, os tais do interior. Esses nem sabiam o que era desertar. Apenas tentaram sobreviver! E nessa luta, pela sobrevivência, quando deram pela fé, disseram-lhes que eram refratários, e muitos deles, nem chegaram a saber que tinham de "dar o nome" como se dizia. Quando deram pela fé, acharam-se desertores involuntários mas, como o castigo seria severo, prosseguiram a sua vida normalmente e estiveram-se nas tintas para o Estado da Nação e para aqueles que, por cobardia, esses sim, deram às de Vila Diogo! Estes, a maioria deles com papás a viverem directa ou indirectamente do Regime, e a mandarem os seus filhotes para a estranja ou então eles próprios se afastaram, por cobardia, isso sim, aproveitando mais tarde as benesses do 25 de Abril, e se forjam em heróis apressados. Havia então uma minoria que, desprezavam o Regime e partiram à procura das asas da liberdade, que realmente, os combatentes de África lhes proporcionaram.
E julgo que não há mais nada a dizer sobre isso.
Chamo eu a esses gajos, os heróies da caca!

Anónimo disse...

Muitos ainda aparecem...reconheço-os. Faço o mesmo...Nem os conheço.
Melhor, "cago neles"...

Anónimo disse...

Muitos deviam ter sido metidos dentro do mesmo "saco". Reconheço-os á distância. O fedor é o memo.

Anónimo disse...

APAREÇAM "SEUS COBARDES", TEEM UMA OPORTUNIDADE DE DAREM A "CARA", QUE NÃO FICAVA NADA MAL,MAS REMETEM-SE AO SILÊNCIO PRÓPRIO DE COMPROMETIDOS E DE COBARDOLAS.

Anónimo disse...

O meu pai lutou em Moçambique, na selva, era Sargento nos fuzileiros navais. Não voltou o mesmo homem que foi. A minha mãe diz que deixou um marido bondoso, calmo, e voltou um homem nervoso, irascível e violento, ate hoje deveria ter recebido acompanhamento psicológico. Passou coisas no mato que diz que só ele sabe. Ainda hoje ele e a companhia dele se reúnem, os que voltaram vivos. Desde a 1 guerra mundial que a minha família dà literalmente carne para canhão aos fuzileiros navais portugueses, tivemos um tio condecorado na primeira guerra com a ordem militar da Torre Espada era Tenente - Comandante de pelotão e foi dos poucos oficiais que não fugiu, pois na batalha de La Lys foi feito prisioneiro pelos alemães em condições degradantes durante 9 meses, serviu de 1916 a 1918 sem nunca ser rendido ou ter voltado numa licença a casa por solidariedade com o seu pelotão. Nunca ninguém la em casa recebeu sequer o que fosse do exercito português de ajuda medica para psiquiatras ou psicólogos por traumas de guerra. É assim em Portugal, esquece-se aqueles que dão o sangue e tem a coragem e honra de defender a pátria onde nasceram. Um bem haja a todos os soldados caídos e que lutaram e sobreviveram em todas as encrencas em que nos metemos.