Confesso que sempre gostei da figura de Eduardo Prado Coelho. O seu aspecto bonacheirão indicavam alguém amigo de patuscadas e dos prazeres da vida, mas no que toca à sua postura intelectual, Prado Coelho padecia dos mesmos males e doenças da sua geração.
Sempre achei insuportável a postura, que transparecia dos seus artigos, de deus do Olimpo a falar para o “Povo” que considerava uma massa informe e abjecta destinada a seguir cegamente os seus “ensinamentos.
Sempre achei insuportável a sua postura de que o universo se restringia aos 20 Arrondissements de Paris, e tudo o que de lá não viesse, ou não fosse lá chancelado, pura e simplesmente não existia.
Este artigo, publicado no “A Baixa do Porto”, por outros motivos é disso um excelente exemplo:
E o que era, para Prado Coelho, o “Grande Teatro”?
Bonita frase esta “É aquele que nos põe a pensar e a sentir o que nunca tínhamos pensado e sentido antes”. Prado Coelho deve ter visto muito deste “Grande Teatro” e com certeza que o faria integrado no grupo dos que não pagavam bilhete. Acredito que muito desse “Grande Teatro” o deve ter posto a “pensar” e a “sentir coisas que nunca tinha antes sentido”. Mas com certeza que nunca pensou, nem sentiu que o prato do restaurante onde comia, era lavado pela protagonista da peça do tal “Grande Teatro” que tinha acabado de assistir.
Não se trata aqui de defender La Feria, mas tudo é “Cultura”, desde as salas esgotadas de La Féria às salas esconsas de Mónica Calle. Desde o “Chupa Teresa” de Quim Barreiros ao concerto da Orquestra Gulbenkian.
Mas isto não é culpa de Prado Coelho, na verdade ele é apenas mais um na longa lista de “ilustres pensadores” estrangeirados que vivem num limbo completamente desligados do país real.
Quando em meados do Séc XIX, a vanguarda musical europeia descobria as sonoridades e construções musicais da música dita folclórica, em Portugal vivia-se num deserto musical, onde a cultura era uma coisa que desembarcava em Santa Apolónia no Sud-Express. Seria necessário esperar cerca de 100 anos para que Freitas Branco e Lopes Graça fizessem em Portugal aquilo que Brahms, tinha feito no Império Austro-húngaro no Século anterior.
Apesar disso o desaparecimento de Prado Coelho é uma perda para o país, pois Prado Coelho era, apesar de tudo, uma pessoa genuína. O problema é que agora ficaram os "Clones"
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