24 de novembro de 2004

Liberdade

“Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer! […]”

Acima está transcrita a primeira estrofe do Poema “ A liberdade” de Fernando Pessoa. A primeira vez que o ouvi, foi numa aula de Português do meu 8º ano. Na minha mente de criança esta estrofe pouco ou nada tinha a ver com a “Liberdade”, só mais tarde é que tive a consciência da palavra e do acto que define o termo “Liberdade”.
A palavra é “NÃO
O acto é “RECUSA
Só se é livre quando se pode dizer “NÃO”.
Só se é livre quando podemos “RECUSAR” aquilo que não desejamos.
A hipótese de podermos dizer que “NÃO” e “RECUSAR” indica a existência de uma OPÇÃO. E só existem OPÇÕES em LIBERDADE. Quando não há OPÇÕES estamos numa DITADURA.

É por isso que ter um livro para ler e não o fazer dá prazer, porque é um acto próprio de quem pode OPTAR, e quem pode OPTAR, vive verdadeiramente em LIBERDADE.

A palavra “SIM” e o acto “ACEITAR” não são definidores de “Liberdade”, Numa ditadura, não existe mais nenhuma opção senão dizer que "SIM" e "ACEITAR" aquilo que o ditador deseja.
Em Portugal foi assim durante 48 anos, em Cuba e na Coreia do Norte é assim desde há muito tempo.
O que me causa maior estranheza, é que quem actualmente deseja à viva força que os Portugueses deixem de ter hipótese de poder dizer “NÃO” e de “RECUSAR” o que vem de Bruxelas, são os mesmos que em 1962, 1969 e 1974 tudo fizeram para que nós pudéssemos voltar a OPTAR, isto é, poderem voltar a dizer “NÃO” e a “RECUSAR” o que o poder de então impunha.

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