21 de janeiro de 2006

Reflexão

Hoje, por imposição legal, o Pais tem de reflectir, antes de ir às urnas amanhã. Mas neste acto eleitoral, que há para reflectir?
Pouco ou nada!
Os candidatos poucas ideias apresentaram ao país, e estas, são já antigas. Tão antigas que até lhes chamamos “ideias feitas”, objecto de inúmeras “reflexões” em eleições passadas.

Por minha parte, e em jeito de balanço, apenas registo nesta campanha, um único facto. Melhor dizendo, um único “exemplo” – Manuel Alegre.

O Poeta, que nos 30 anos que levamos de Democracia, sempre se ocupou um lugar terciário na sombra política, era em meados do ano transacto, o candidato oficioso do PS, muito por culpa dos inúmeros passos atrás, dados por outras figuras do Universo Socialista. Mas num Golpe de teatro Mário Soares sai das prateleiras da história, dá o dito por não dito e apresenta a sua candidatura, com candidato do PS, ignorando completamente o seu amigo e antigo companheiro de lutas de há mais de 40 anos.
Para Alegre isto foi pior que uma facada nas costas. Aqueles que até então lhe davam abraços e palmadinhas nas costas, viraram-lhe a cara, ameaçaram-no publicamente num dos mais abjectos actos de politiquice nojenta.
Nesse momento, Alegre parecia o Portugal de hoje, triste, só, abandonado por aqueles que julgava por amigos. Num jantar em Viseu, Alegre chegou a anunciar a sua capitulação, tal era o poço profundo de lisas paredes para onde os seus “amigos” o haviam atirado.
Mas essa capitulação nunca chegou! Contra tudo e contra todos, Alegre investiu, e foi à luta, sem meios, sem apoios, sem benesses, usando apenas a sua voz, qual David contra Golias Soares.

Sinceramente pouco me importa o resultado de amanhã. Alegre é o vencedor. Onde ontem existia uma penumbra onde se ocultava um poeta algo cinzento e ultrapassado, aparece hoje um líder político, muito mais respeitado que os seus pares e não tenho dúvidas que num futuro próximo iremos ouvir a sua voz, e garanto que não será a declamar poemas.

Acima, afirmei que a candidatura de Manuel Alegre, mais que ser um facto, era um “Exemplo”. É um exemplo, porque nos das que correm, Portugal está numa situação similar àquela em que Alegre esteve. Para Portugal sair deste marasmo, não tem outra alternativa que “ir-à-luta”. Pena é que destas eleições não saia “O eleito”, que leve Portugal ao combate. Resta-nos então contemplar as lisas paredes deste poço onde estamos ainda a cair.

Publicado também no “O Eleito

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