A minha lembrança do anterior regime é muito difusa em todos os aspectos, pelo que não posso estabelecer uma comparação entre o antes e o depois. No que toca à programação televisiva infantil, a revolução deixou graves sequelas.
Antes da revolução havia duas coisas que eu adorava. Os meninos rabinos (Na hora de ir para a cama) e os desenhos animados do Speedy Gonzalez que davam à Segunda-Feira à noite. Tenho uma recordação difusa de uns bonecos ingleses que passavam pelas 19h00 todos os dias em que a principal figura era um mocho, e que provocou grandes traumas em amigos meus mais velhos, felizmente não me lembro.
Após o 25 de Abril, tudo mudou e a criançada de Portugal levou em cima com “O Fungágá da Bicharada” que tinha dois apresentadores - José Barata-Moura, um tipo gordissimo, mal vestido e que ninguém conseguia ver a cara devido aos enormes cabelos, barbas e bigode encarapinhados, os quais nunca deviam ter visto lâmina desde a sua puberdade. O segundo apresentador era o oposto, um gajo fininho, bem vestido e barbeado que dava pelo nome de Júlio Isidro, o qual tinha acabado de dar a cambalhota da vida dele, pois uns meses atrás apresentava com Fialho de Gouveia e um terceiro apresentador que evito nomear, mas que vocês sabem de quem estou a falar, um programa de apoio às nossas tropas no ultramar.
Na minha ingénua mente de criança, estava perfeitamente convencido que o nome Barata advinha do facto destes insectos habitarem nas suas longas barbas, pelo que todos os Sábados ficava especado em frente à televisão à espera que estes insectos aparecessem à sua superfície.
Hoje, passados 29 anos, umas coisas tiveram desenvolvimentos positivos (José Barata Moura é hoje em dia o Reitor da Universidade de Lisboa, veste bem e continua a usar barbas, só que devidamente aparadas) e negativos, o Fungágá da Bicharada ao lado do Avô Cantigas é sem dúvida um clássico.
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