Morreu hoje com a idade de 96 anos, Simon Wiesenthal, aquele que nunca perdou, aquele que nunca esqueceu.
Ainda quando estava nos campos de concentração, Wiesenthal jurou deter e levar perante a justiça, todos aqueles que foram responsáveis pelo maior crime que a humanidade assistiu até hoje.
Em 1945, quando a guerra acabou, os aliados voltaram a casa para esquecer a tragédia, mesmo a maioria do povo Judeu queria esquecer o holocausto. Wiesenthal não queria esquecer e durante 15 anos lutou quase sózinho, pagando as despesas do seu bolso, investigando em todo o mundo, tentando conhecer o paradeiro dos criminosos nazis e lutando contra as burocracias de vários países para levá-los a julgamento. Apenas em 1961, quando descobriu o paradeiro de Adolf Eichmann, o mundo acordou para a sua gesta.
Até à data da sua morte, Wiesenthal levou a julgamento cerca de 1100 criminosos.
Até sempre, Grande, Grande Wiesenthal.
Em sua memória, deixo aqui um dos melhores Poemas que se escrevram sobre os campos da morte. "Fuga de Morte" (Todesfuge) de Paul Celan (1920-1970), tal como Wiesenthal, um sobrevivente dos campos da morte.
FUGA DE MORTE
Leite negro da madrugada, bebemo-lo ao entardecer,
bebemo-lo ao meio-dia e pela manhã, bebemo-lo de noite,
bebemos e bebemos
cavamos um túmulo nos ares, aí não ficamos apertados.
Na casa vive um homem que brinca com as serpentes e escreve
escreve quando cai sobre a Alemanha a negra noite, os teus cabelos de oiro
Margarete
escreve e põe-se à porta da casa, as estrelas flamejam,
e assobia aos seus mastins
e assobia aos seus judeus, manda abrir uma vala na terra
ordena-nos agora, toquemos e dancemos
Leite negro da madrugada, bebemos-te de noite,
bebemos-te ao meio-dia e pela manhã, bebemos-te ao entardecer,
bebemos e bebemos
Na casa vive um homem que brinca com as serpentes e escreve
escreve quando cai sobre a Alemanha a negra noite, os teus cabelos de oiro
Margarete
Os teus cabelos de cinza Sulamith, cavamos um túmulo nos ares
aí não ficamos apertados
Ele grita, cavem mais fundo no reino da terra vocês aí e vocês
outros cantem e toquem
leva a mão ao ferro que tráz à cintura balança-o azuis são os seus
olhos
enterrem as pás mais fundo vocês aí e vocês outros continuem
a tocar para a dança
Leite negro da madrugada, bebemos-to de noite,
bebemos-te ao meio-dia e pela manhã, bebemos-te ao entardecer,
bebemos e bebemos
Na casa vive um homem, os teus cabelos de oiro Margarete
Os teus cabelos de cinza Sulamith, ele brinca com as serpentes
E grita, toquem mais doce a música da morte, a morte é um mestre
que veio da Alemanha
grita, arranquem tons mais escuros dos violinos depois feitos fumo
subireís aos céus
e tereis um túmulo nas núvens aí não ficamos apertados
Leite negro da madrugada, bebemos-to de noite,
bebemos-te ao meio-dia, a morte é um mestre que veio da Alemanha
bebemos-te ao entardecer e pela manhã, bebemos e bebemos
a morte é um mestre que veio da Alemanha, azuis são os seus olhos
atinge-te com uma bala de chumbo, acerta-te em cheio
na casa vive um homem, os teus cabelos de oiro, Margarete
atiça contra nós os seus mastins, oferece-nos um túmulo nos ares
brinca com as serpentes e sonha, a morte é um mestre que veio
da Alemanha