24 de abril de 2005

Um Abril de Águas Turvas

No passado dia 19 de Fevereiro o Expresso publicou na Revista “Única”, e inserido num artigo com o título “Portugal que Funciona” um retrato catastrófico dos recursos hídricos Portugueses.
O gráfico seguinte mostra a percentagem de empresas industriais que possuem estação de tratamento de águas industriais (ETAR), depois de vários anos em que milhões de euros foram colocados à disposição das empresas e autarquias para o investimento em sistemas de controlo ambiental, nomeadamente as tão faladas ETAR.

No vale do Ave e Cávado apenas cerca de 7.5% das empresas tratam as suas águas industriais. A indústria maioritária nesta zona é a indústria têxtil. Por este motivo é possível conhecer antecipadamente cor da moda na próxima estação através de uma mera observação da cor das águas destes dois rios. Nas bacias hidrográficas do Douro e Vouga, a situação é também confrangedora. Apenas na bacia hidrográfica do Tejo a maioria das empresas trata os seus efluentes industriais. Mesmo assim não deixa de ser uma situação medíocre.

No entanto este gráfico não nos dá apenas o estado das nossas bacias hidrográficas, ele mostra um retrato regional da indústria Portuguesa. Uma empresa que gera efluentes líquidos altamente poluentes e não os trata é uma empresa que possui uma gestão deficiente, virada para o lucro fácil e rápido, sem respeito pelo meio-ambiente e muito provavelmente sem respeito pelos seus próprios trabalhadores. Em muitas empresas a salário pago é muitas vezes inferior ao salário mínimo nacional. Esta prática configura uma prática de “Dumping” social e ambiental, onde as primeiras vítimas são as poucas empresas (7.5%) que investiram em sistemas de controlo ambiental, que investiram também em equipamentos de tecnologia de ponta e provavelmente possuem uma melhor gestão de recursos humanos. A existência de uma Inspecção-geral do Ambiente que ignora a existência das empresas, inspeccionando apenas as empresas cumpridoras, faz com que as empresas prevaricadoras não sintam qualquer incentivo em investir em sistemas de controlo ambiental que onerariam a sua estrutura de custos.

No vale do Tejo, o número de empresas que possuem ETAR (53%) é medíocre, apenas nos diz que no cômputo global do país, é nesta região onde estão as empresas industriais de ponta e com os melhores métodos de gestão. Em média, os ordenados pagos no vale do Tejo são superiores aos que são pagos nas restantes regiões industriais.
Postal publicado no Café Expresso

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