Tenho acompanhado com particular interesse o debate que por aqui se vai travando acerca do massacre de Lisboa de 1506. Partilho em particular da opinião do Miguel do Tempo dos assassinos, e acho que não vale a pena, hoje em dia, verter lágrimas sobre leite derramado. O que se passou em Lisboa há 500 anos atrás foi fruto de condições específicas da própria época. Época essa dominada pela superstição, por uma interpretação literal dos livros sagrados e pela ignorância analfabeta de mais de 95% da população que a tornava presa fácil de clérigos pouco menos ignorantes que o povo e por uma nobreza com pouco carácter e muito ávida de riqueza alheia.
O que aconteceu há 500 anos não é comparável ao que se passou na Europa Central há 60 anos atrás. Comparar ambos é fazer ponto e contraponto ao mesmo tempo.
Se em Lisboa o massacre se deveu à superstição, religião e ignorância. Há 60 anos, o conhecimento, o desenvolvimento cultural, a ciência e o racionalismo produziram o mesmo efeito, mas muito mais amplificado, para mal de 6 000 000 de pessoas.
Se em Lisboa o massacre se deveu à superstição, religião e ignorância. Há 60 anos, o conhecimento, o desenvolvimento cultural, a ciência e o racionalismo produziram o mesmo efeito, mas muito mais amplificado, para mal de 6 000 000 de pessoas.
O Portugal de Hoje, não é o Portugal de 1500, mas o facto é que ainda vivemos debaixo das consequências do que se passou em 1506. O massacre de Lisboa, foi o ponto de partida para a decadência em que ainda nos encontramos, esta é a cruz que carregamos desde então. É uma cruz extremamente pesada e por isso não vejo porque temos de pedir desculpa.
O massacre dos Marranos foi o massacre de uma elite fundamental do Portugal de 1500, pilar mestre do império marítimo português. Sem as suas capacidades de financiamento e gestão, o império português entrou em decadência. Com o massacre de 1506 lucraram os dois países onde se refugiou a comunidade judaica portuguesa, A Holanda, até então um mísero pântano, ergue em menos de 100 anos um enorme império marítimo o qual perdurou até meados do século passado. O Império Otomano, que atinge o seu apogeu em menos de 100 com Solimão o Magnifico, que apoiado pelos Judeus expulsos de Portugal, quase impôs o seu domínio a toda a Europa central.
A colocar uma vela, colocá-la-ei por Portugal pois ele foi a maior vítima do massacre de Lisboa, tal como a Alemanha foi a maior vítima do Nazismo e irá carregar a sua cruz pelos séculos vindouros, tal como nós carregamos a nossa (basta ler a caixa de comentários do Lutz).
Isto não invalida o excelente trabalho que o Nuno Guerreiro tem feito relativo a este tema. Não nos devemos esquecer das páginas negras da nossa história e daquilo que as causou, pois apenas assim evitaremos repetir os mesmos erros. Pedir desculpa não vale a pena, o tempo não volta para trás, e a sensação de estarmos desculpados é a melhor maneira de não vermos onde erramos.
NOTA: Até houve quem achasse que por de trás da intenção do Nuno, se esconderia qualquer "perfida" intenção. Quem, como eu, acompanha a Rua da Judiaria há mais de dois anos, sabe que a única intenção do Nuno era apenas "não esquecer".
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