[...]A direcção única não é assim uma coisa tão recente como toda a gente o pode imaginar à primeira vista. Muitíssimo antes de haver automóveis, carruagens e carroças, muitíssimo antes mesmo de ter sido inventada a própria roda, já havia no mundo a direcção única.
Ela data já daquele dia memorável em que Deus, depois de ter criado o Mundo, deu a alternativa ao Homem.
Mas entre Deus e o Homem há uma diferença dos diabos.
Entregou Deus ao Homem o nosso planeta inteirinho, com todas as suas maravilhas, com todo o esplendor de todas as suas múltiplas fortunas, e ao confiar-lhe desta maneira todas as riquezas da terra, disse-lhe:
- Toma para ti, tudo isto tem uma direcção única.
E levou ao máximo a sua lealdade de Deus para com o Homem, avisando-o como bom e verdadeiro amigo, de que havia também direcções proibidas e, por conseguinte, que tivesse muito cuidadinho com elas.
[...]
A impossibilidade de pôr a vontade de cada um onde há outras, onde estão todas as vontades do Mundo.
Adão e Eva, e Abel e Caim, ainda não morreram, estão ainda aqui neste mundo, são os nossos nomes próprios, minhas senhoras e meus senhores.
Na humanidade há pelo menos todas as maneiras de ser, de modo que o humanamente lógico é deixar viver todas as maneiras de ser.
Respeitemos a própria realidade. Não raciocinemos contra o próprio raciocínio:
[...]
Referimo-nos lealmente neste momento e alguns sábios (assim lhes chamam ainda os da sua laia) a que vêm a público com uma autoridade, que ninguém sabe como a têm nem quem lha deu, e dizem frases importantes e definitivas como estas:
O individualismo morreu.
Estamos na época colectivista.
Ora, isto é falso. Nem o individualismo morreu nem o colectivismo ganhou. Nem o individualismo pode morrer nunca nem o colectivismo pode jamais sair vencedor por esmagamento do individualismo.
Excertos do Discurso "Direcção única" de Almada Negreiros lido no Teatro D. Maria II em 9 de Junho de 1932.
A ler na íntegra no Portal da História
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