1 de fevereiro de 2010

A MORTE SAIU À RUA

A morte saiu à rua num dia assim

Naquele lugar sem nome para qualquer fim

Uma gota rubra sobre a calçada cai

E um rio de sangue dum peito aberto sai

O vento que dá nas canas do canavial

E a foice duma ceifeira de Portugal

E o som da bigorna como um clarim do céu

Vão dizendo em toda a parte o rei morreu!

Teu sangue, Rei, reclama outra morte igual

Só olho por olho e dente por dente vale

À lei assassina à morte que te matou

Teu corpo pertence à terra que te abraçou

Aqui te afirmamos dente por dente assim

Que um dia rirá melhor quem rirá por fim

Na curva da estrada há covas feitas no chão

E em todas florirão, as flores duma nação

Poema de José Afonso, com ligeiras alterações minhas que em nada afectam o seu sentido.


Também publicado em "O Centenário da República"

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